Há alguns dias, na estreia mundial de Velozes e Furiosos 7, nos Estados Unidos, muitas das pessoas presentes não conseguiram segurar a emoção quando Paul Walker apareceu na tela na pele do agente Brian O'Conner.
O ator morreu em novembro de 2013, aos 40 anos, em um acidente de carro na Califórnia, quando estava no meio das filmagens do mais recente longa da franquia cinematográfica. Isso deixou o estúdio Universal em uma encruzilhada: seria melhor deixar o filme inacabado ou usar a tecnologia para terminá-lo?
Finalmente, depois de vários meses de interrupção dos trabalhos, tempo necessário para que os outros atores se recuperassem de um duro golpe e o roteiro fosse reescrito, as gravações foram retomadas. Agora, o filme chegou aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira.
Quem já viu o longa garante ser difícil distinguir as cenas rodadas pelo ator e aquelas feitas depois de sua morte. Para "ressuscitar" Walker, o estúdio recorreu a imagens geradas por computador, uma tecnologia usada há mais de duas décadas no cinema.
Em 1994, em O Corvo, ela permitiu devolver à vida o ator Brandon Lee, filho do lendário Bruce Lee e que havia morrido em meio às filmagens. O mesmo ocorreu em 2000 com o ator Oliver Reed em Gladiador.
Mas, nesta época, a técnica ainda era um pouco rudimentar. Hoje, segundo especialistas, é quase impossível diferenciar as cenas "reais" daquelas geradas com o auxílio de programas de computador.
Dublê
No caso de Velozes e Furiosos 7, o "ressuscitação" de Paul Walker coube ao estúdio do diretor neozelandês Peter Jackson, também responsável pela adaptação dos livros O Senhor dos Anéis e O Hobbit para o cinema.
Os produtores também usaram dublês nas cenas do ator e contaram com a ajuda de dois irmãos de Walker em cenas com enquadramentos em que não era possível ver seus rostos.
Ainda foram recicladas cenas de filmes anteriores da franquia em que Walker aparece e que nunca haviam sido usadas. O roteiro foi adaptado para ser possível encaixá-las no novo filme.
Os atrasos nas filmagens causados pela morte do ator e o subsequente uso de computação gráfica, que ainda é muito cara, fez o orçamento do filme aumentar em US$ 50 milhões ( cerca de R$ 160 milhões), alcançando um total de US$ 250 milhões.
O estúdio optou não revelar, por enquanto, quais cenas foram rodadas pelo ator.
"A tecnologia melhorou muito, e é cada vez mais difícil notar a diferença entre uma filmagem real e o que é criado com computação gráfica", garante Mike Chambers, presidente do conselho da Sociedade Americana de Efeitos Visuais.
Chambers explica que o primeiro a ser feito é usar dublês para filmar a maioria das cenas. Depois, é preciso colocar neles o rosto do ator em questão. Técnicas de animação fazem com que os movimentos deste rosto se encaixem nos movimentos do rosto do dublê para que tudo fique com um aspecto natural.
O especialista destaca que, no caso de Walker, é muito provável que tenha sido usado um modelo em 3D do rosto do ator feito com base em um scanner ou um sistema de câmeras antes de sua morte, porque é comum em filmes de ação que seja necessário substituir o rosto do dublê pelo de um ator em cenas perigosas.
"É uma tecnologia muito cara que requer muito tempo de trabalho e muitas pessoas envolvidas. Cada cena é única, e o custo depende da sua complexidade."
Efeitos especiais
E o que dizem os espectadores que já tiveram a oportunidade de conferir o último filme de Walker?
"Realmente, não é possível diferenciar as cenas", disse o crítico de cinema da revista Variety, Scott Foundas, que estava na estreia mundial. "Muitas pessoas prestaram bastante atenção para ver se era possível notar, mas os efeitos especiais são muito sofisticados."
Foundas acredita que, com a evolução da tecnologia, é provável que em um dia não muito distante seja possível rodar filmes inteiros com atores já falecidos, como Marilyn Monroe e Humphrey Bogart.
Ele ainda diz que a computação gráfica "pode ser útil quando, por exemplo, é preciso refilmar uma cena e o ator não está disponível".
No estúdio, os produtores devem estar de dedos cruzados diante da estreia do filme, pois, segundo Stephen Galloway, da revista The Hollywood Reporter, terminar o longa foi uma aposta arriscada e cara.
"Há desafios importantes, como fazer com que o público acredite que Paul Walker segue vivo e que os espectadores reajam com entusiasmo, indo aos cinemas para vê-lo", destaca Galloway.
"Sem querer antecipar nada do filme, posso dizer que encontraram uma maneira muito adequada de fazer com que Walker deixe a saga sem matar seu personagem", diz Foundas.
E então uma certa "imortalidade" foi alcançada...
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